É bom que seja assim, Dionísio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesse dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria.Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto.Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo do amanhã será riqueza:
A cada noite,eu Ariana, preparando
Aroma e corpo.E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.
A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só exito
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa,Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
Porque te amo
Deverias ao menos te deter
um instante
Como as pessoas fazem
Quando vêem a petúnia
Ou a chuva de granizo.
Porque te amo
Deveria a teus olhos parecer
Uma outra Ariana
Não essa que te louva
A cada verso
Mas outra
Reverso de sua própria placidez
Escudo e crueldade a cada gesto.
Porque te amo, Dionísio,
é que me faço assim tão simultânea
Madura, adolescente
E por isso talvez
te aborreças de mim.
Quando Beatriz e Caiana te perguntarem,Dionísio
Se me amas, podes dizer que não.
Pouco me importa
ser nada à tua volta,sombra,coisa esgarçada
No entendimento de tua mãe e irmã.
A mim me importa,Dionísio,o que dizes deitado,ao meu ouvido
E o que tu dizes nem pode ser cantado
Porque é palavra de luta e despudor.
E no verso se faria injúria
E no meu quarto se faz verbo de amor
Três luas Dionísio
Não te vejo
Três luas percorro a casa minha
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães
E fingindo altivez
Digo a minha estrela, essa que é inteira
prata dez mil sóis
Sírios pressagam que ariana pode estar sozinha sem Dionísio
Sem riqueza ou fama porque há dentro dela um som maior
Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada
Mais luzente alta quando tu Dionísio não estás
Três luas Dionísio
Não te vejo
Três luas percorro a casa minha
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães
E fingindo altivez
Digo a minha estrela, essa que é inteira
prata dez mil sóis
Três luas,Dionísio,não te vejo
É licito me dizeres, que Manan, tua mulher
Virá à minha Casa, para aprender comigo
Minha extensa e difícil dialética lírica?
Canção e liberdade não se aprendem
Mas posso,encantada, se quiseres
Deitar-me com o amigo que escolheres
E ensinar à mulher e a ti,Dionísio,
A eloquência da boca nos prazeres
E plantar no teu peito, prodigiosa,
Um ciúme venenoso e derradeiro.
Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius,Gelius,
Inacius e Ravidus
Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora
E refrescar tuas noites
Com teus amores breves.
Ariana e Catulo, luxuriantes
Pretendem eternidade,e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama.
Nem é justo,Dionísio, pedires ao poeta
Que seja sempre terra o que é celeste
E que terrestre não seja o que é só terra.
Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático Jazigo
Pensando
Que se a mim não me deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu,Dionísio,é que recusas
Ariana suspensa nas suas águas.
Se todas as tuas noites fossem minhas
eu te daria,Dionísio,a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada,sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria,Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
e agudo se faria o gozo teu.
Hilda Hilst
Cidinha!!!
ResponderExcluirHoje vim lhe convidar para conhecer e se desejar acompanhar minhas postagens num espaço novo onde há publico com mais alguns amigos. é um espaço de excelente qualidade e bom gosto.
Ficarei FELIZ com sua visita!!!
http://refugio-origens.blogspot.com
Ah! O meu tempo "lunar"... oferecer a quem sem me decepcionar... Talvez, mesmo, a Dionísio! Poema provocante!
ResponderExcluirAbraço.
Que linda poesia e sempre bom te ver chegando! beijos, linda semana,tuuuuuuuuuuuudo de bom,chica
ResponderExcluirMuito bom, Cidinha! Que excelentes escolhas de texto e imagem! Boa semana, amiga.
ResponderExcluirQue bom encontrar Hilda Hilst no seu blog, Cidinha! Ela era brilhante. Beijos!
ResponderExcluirDesconhecia Hilda Hist, mas fiquei encantada com o poema!
ResponderExcluirAbraço muito grato
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCIDINHA,
ResponderExcluirHilda Hist que,infelizmente nos deixou em 2004, esta estupenda poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira.
E aqui,Cidinha você destaca um poema épico, lindíssimo!
Parabéns pela escolha e visita generosa ao nosso blog.
Um abração carioca
Que beleza de poesia,Cidinha! Não conhecia e quanta paixão! Gostei muito! bjs e boa semana,
ResponderExcluirNão há como fica insensível à beleza da escrita de Hilda Hilst. Poema magnífico. Lindos dias para você, querida. Bjs.
ResponderExcluir(ficar) - lapso meu (rss). Bjs.
ResponderExcluirUau que poesia linda você escolheu Cidinha!!
ResponderExcluirJá li algumas coisas de Hilda Hilst, mas essa eu não conhecia.
Quero agradecer pelo teu carinho na poesia de meu filho, sabe como é mãe, adoça a boca de nosso filho, é o mesmo que adoçar nosso coração.
Beijos e meu carinho.
ResponderExcluirOlá Cidinha querida,
Maravilhosa a sua escolha. Ainda não tinha lido nada da Hilda Hilst e fiquei impressionada.
Espero que tudo esteja bem com você.
Lindos dias.
Beijossssss.
Oi Cidinha!
ResponderExcluirBoa noite!
Não conhecida os escritos da Hilda Hilst. Muito linda a poesia!
Um abraço com carinho, e ótima semana!
Beijos grande!(•~?•~)? ? ?✽∿✽∿
Olá Cidinha
ResponderExcluirUma escolha espetacular minha querida. Um poema exuberante pleno de intensa provocação.
Beijos no coração
Olá,boa tarde,Cidinha
ResponderExcluirHilda Hilst... são belíssimas e eu não as canto,porque sou péssimo, mas vez ou outra, quando me encontro mais sensível, leio as "canções" , ouvindo Zeca Baleiro.
Muito boa escolha!Parabéns!
Obrigado pelo carinho, belo dia, beijo!
Obrigada pela atenção e pelo carinho. Fico muito feliz com sua visita. Que esteja bem e viva uma linda sexta-feira. Bjs.
ResponderExcluirBom dia Cidinha
ResponderExcluirVim lhe deixar meu abraço e desejo de um final de semana maravilhoso
Beijos no coração
OI CIDINHA!
ResponderExcluirUM POEMA MARAVILHOSO, ESCOLHESTE BEM COMO SEMPRE.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Bom fim de semana divertido,
ResponderExcluirOnde quer que você esteja
Amorosamente, bem vivido
Rodeada do que mais deseja.
Nas plantas verdes estão as flores,
Perfumadas no campo ou no jardim
Vida feliz sem desgostos e sem dores
Saúde, paz, alegria e felicidade sem fim.
Tudo de muito bom com abundância,
Melhor, quanto mais distante
Da tão poluidora, danosa, ganância
Num lugar onde tudo seja transparente
Tão puro como o olhar de uma criança!
Boa noite e bons sonhos,
um beijo para você amiga Cidinha.
Eduardo.
Excelente escolha, belissimo poema
ResponderExcluirBeijinhos
Maria
Oi Cidinha, que poema mais lindo, adorei!
ResponderExcluirTenha uma ótima semana, beijos!!
ResponderExcluirOlá querida amiga,
Que você tenha um delicioso domingo.
Grata pelo carinho de sempre.
Beijosssssssss.
Boa semana, Cidinha! Aguardo o próximo post.
ResponderExcluirLindíssima Hilda feita lunar dedilha belíssimo poema.Amei Cidinha.Encantei-me com tua escolha!
ResponderExcluirUma semana inspiradora. Bjs Eloah
Simplesmente maravilhoso, Cidinha. Que bom gosto nas suas escolhas. Valeu!
ResponderExcluirBeijos, querida amiga!
Olá amiga Cidinha. Não conhecia Hilda Hilst, mas gostei. Beijos e bom carnaval.
ResponderExcluirOlá amiga querida,
ResponderExcluirUm poesia encantadora e bela!
Maravilhosa sua escolha! Como sempre, gostei de ler.
Que esteja bem, feliz, e muita paz nos seus dias, é o que desejo à você.
Beijo.
Cidinha que linda esta poesia, forte, lírica, mas de uma beleza ímpar, obrigada por compartilhar, excelente escolha beijos
ResponderExcluir