sábado, 25 de agosto de 2012





Revelação

Se os meus olhos falassem,
Talves pudessem dizer 
Mil coisas que não revelo
Loucuras do meu querer.


Se os meus olhos falassem 
Neles poderia ler 
Sentimentos que disfarço
No meu jeito de querer.


Se os meus olhos falassem 
E os pudesses entender,
Saberias, vida minha, 
Que só a ti sei querer.


O meu tempo vai passando
Vou mudar meu proceder 
As gavetas arrumando,
Pois ao certo vão render.


Felicidade, alegria,
E gostosas emoções.


Nas gavetas só bondade,
Fora o que nos cause dor,
Nas gavetas... Amizade, e sentimentos de amor!

                                                            Sílvia Benedett  















segunda-feira, 20 de agosto de 2012




Não sei


Não sei... Se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser :
Colo que acolhe, 
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa do outro mundo, é o que dá sentido a vida.
É o que faz com que ela não seja curta nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, para...
Enquanto durar!
                                                                 Cora Coralina





segunda-feira, 13 de agosto de 2012



Atire a primeira flor

Quando tudo for pedra,
Atire a primeira flor;
Quando tudo parecer caminhar errado
Seja você a tentar o primeiro passo certo.


Se tudo parecer escuro,
Se nada puder ser visto
Acenda você a primeira luz
Traga para a treva, você primeiro
A pequena lâmpada;


Quando todo estiverem chorando,
Tente você o primeiro sorriso;
Talvez na forma de lábios sorridentes,
Mas na de um coração que compreenda
De braços que confortam.


Se a vida inteira foi um imenso não,
Não pare você na busca do primeiro sim
Ao qual tudo de positivo deverá seguir-se;


Quando ninguém souber coisa alguma 
E você souber um pouquinho 
Seja o primeiro a ensinar, 
Começando a aprender você mesmo
Corrigindo-se a si mesmo;


Quando alguém estiver angustiado à procura,
Consulte bem o que se passa,
Talvez seja em busca de você mesmo
Que este seu irmão esteja;


Daí, portanto, 
O seu dever deve ser o primeiro a aparecer,
O primeiro a mostrar-se,
O primeiro que pode ser único e mais sério ainda,
Talvez último;



Quando a terra estiver seca
Que sua mão seja a primeira a regá-la
Quando a flor se sufocar no urge e no espinho,
Que sua mão seja a primeira a separar o joio,
A arrancar a praga
A  afagar a pétala,
A acariciar a flor;


Se aporta estiver fechada de você,
Venha a primeira chave;
Se o vento sopra fino ,
Que o calor de sua lareira seja a primeira proteção e primeiro abrigo.


Se o pão for apenas massa e não estiver cozido
Seja você o primeiro forno para transforma-lo
Em alimento.


Não atire a primeira pedra em quem erra
De acusadores o mundo está cheio,
Nem , por outro lado aplauda o erro;
Dentro em pouco a ovação será ensurdecedora;
Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu;
Sua atenção primeiro para aquele que foi esquecido;
Seja você o primeiro para aquele que não tem ninguém;


Quando tudo for espinho 
Atire a primeira flor,
Seja o primeiro a mostrar que há caminho de volta;
Compreendendo que o perdão regenera,
Que a compreensão edifica,
Que o auxilio possibilita,
Que o entendimento reconstrói.


Atire você quando tudo for pedra,
A primeira flor.
                                                 Glacia Dubert
 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012





O amor

O amor quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.


Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: Parece que mente
Cala: Parece esquecer.


Ah, mas se ele advinhasse,
Se pudesse ouvir os olhos
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que estão a amar!


Mas quem sente muito cala
Quem quer dizer quando sente
Fica sem alma, nem fala.
Fica só, inteiramente!


Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouço contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
                                                             
                                                                                                   Fernando Pessoa