domingo, 23 de setembro de 2012



Cântico da Terra


Eu sou a terra, 
Eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.


Eu sou a fonte original de toda a vida.
Sou o chão que se prende a tua casa.
Sou a telha da coberta do teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou espiga generosa de teu gado
E certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão da tua vida
De mim vieste pela mão do criador
E a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim  acharás descanço e paz.


Eu sou a grande Mãe universal.
Tua filha , tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a greba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador,tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste 
E o pão de tua casa.
E um dia bem distante, à mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu sono tranquilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a greba.
Cuidemos do milho, do gado e da tulha.
Fartura teremos, e donos de sítio felizes seremos.
                                                     
                                                                                                                             Cora Coralina





domingo, 9 de setembro de 2012






Tu tens um medo,
      Acabar

Não vês que acaba todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor
Na tristeza
Na dúvida
No desejo.

Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Não amas como os homens amam.
Não amas com amor.

Amas sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Ama como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti, que não te inquieta.

Se o amor leva a felicidade,
Se leva a morte,
Se leva algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...

Não faças de ti um sonho a realizar.
Vai sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.

Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe,
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.

Se o que renuncia altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem o orgulho da tua renúncia!
Abres as tuas mãos sobre o infinito 
E não deixes ficar de ti nem esse último gesto!
O que tu vistes amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil, 
Foi o que viram os teus olhos humanos,
Esquecidos ... 
Enganados...

 No momento da tua renúncia 
Estenda sobre a vida os teus olhos
E tu verás o que vias.
Mas tu verás melhor...
E tudo que era efêmero
Se desfez.
E ficaste só tu que é eterno.
                                                                      Cecília Meireles
 

domingo, 2 de setembro de 2012




Valeu a pena!


Pelos desvios, por mais diferentes os caminhos...
Pelos devaneios, por todos nossos fortes anseios.
 
Pelos beijos que foram dados, 
Por todos os segredos jamais contados...

Pelos sorrisos divididos, 
Por cada dia, cada momento um dia vivido tudo...

Hoje o " nada " se faz mudo!

Pela saudade que hoje bateu, 
Serena, nada amena!

Crava no peito o sentimento de que tudo...
Tudo ... Valeu a pena!
                                                                           Andréia Maia