domingo, 26 de outubro de 2014







Personagem

Teu nome é quase indiferente
e nem teu rosto mais me inquieta.
A arte de amar é exactamente
a de se ser poeta.

Para pensar em ti, me basta
o próprio amor que por ti sinto:
és a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.

O lugar da tua presença
é um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto é que pensa
o olhar de todas as saudades.

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silêncio, obscuro, disperso.

Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existência,
tudo - o espaço evita e consome:
e eu só conheço a tua ausência.

Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.


Cecília Meireles


10 comentários:

  1. Gosto muito da Cecília!! Linda poesia! beijos,ótima semana,chica

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  2. Boa tarde

    Pela primeira vez que visito este cantinho, gostei muito do que vi, e li..
    Este poema está fantástico, parabéns.
    Fiquei por cá

    Se quiser visite-me aqui. Obrigada
    Beiojos

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  3. Teu nome é quase indiferente,
    mas não passa despercebido
    não é como o vento transparente
    quando passa faz algum alarido.

    Mas, não venho aqui,
    para de alaridos falar
    sei que um lindo poema li
    estou contente por te visitar.

    Não basta só dizer,
    que estou contente
    também preciso ver
    o que é transparente!

    Resto de bom domingo, um beijo amiga Cidinha.
    Eduardo.

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  4. Em belos versos, Cecília nos mostra a simplicidade do sentir e do viver. Sensível momento.
    Abraço.

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  5. Cecilia Meireles é sempre uma escolha maravilhosa.
    Lindo!
    Beijinhos
    Maria

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  6. Cecília é incrível, não, Cidinha? E ainda mais com essa bela imagem! Obrigado, amiga, pelo ótimo post; boa semana!

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  7. Claro! É lindo, é da Cecília...
    Queridíssima amiga Cidinha, muita paz!

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  8. Como é gostoso ler Cecilia, amo!
    Adorei a escolha!
    Beijos Cidinha!

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